Documentário retrata a trajetória de Manoel da Conceição, participante do MEB no Maranhão

Documentário retrata a trajetória de Manoel da Conceição, participante do MEB no Maranhão

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No dia 15 de dezembro, o Movimento de Educação de Base (MEB) participou do Cine Debate da IX Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária da Universidade Estadula do Maranhão – UEMA. A atividade consistiu de uma seção de cine-debate com o filme “Minha perna, minha classe – A trajetória de Manoel da Conceição” que participou dos grupos do MEB na alfabetização de jovens e adultos e na formação de Sindicatos de trabalhadores rurais no interior do MA, especialmente em Pindaré Mirim entre os anos 1960 e 80.

Segue o Texto de Pe. Gabriele Cipriani, o qual representou o MEB na mesa, juntamente com Francisco Martins Teixeira de Imperatriz – educador do MEB, que conviveu com Manoel da Conceição.

“Eram os primeiros anos da década de 1960 quando Manoel da Conceição se encontrou com o Movimento de Educação de Base – MEB que rapidamente multiplicava suas atividades educativas pelo Nordeste e pelo Norte, presencialmente e por meio das escolas radiofónicas.
Um grupo de ativistas do MEB visitava a região do Vale do Pindaré em busca ativa de pessoas que demonstrassem espírito de liderança para participar do novo movimento de alfabetização, sindicalismo, outras questões do campo.

Debatiam-se problemas que afetavam a vida dos trabalhadores rurais em todos os ambientes. Precisava dar respostas adequadas a quem, como a Confederação Rural Brasileira, enfatizava a passividade dos camponeses definidos comodistas, ignorantes, individualistas, desconfiados, que não percebem as causas que dificultam a sua vida. (cf. GLEBA, abril de 1962, p. 54).

O Movimento de Educação de Base chegava com o propósito de formar lideranças sindicais, estabelecendo cursos ou períodos de educação popular. “Viver é Lutar” era o lema e também o título e o conteúdo da cartilha de leitura, reflexão e debate para pessoas não alfabetizadas e educadores populares. “Viver é lutar” resumia o propósito de transformar agricultores em lutadores, e formar sindicados rurais capazes de unir os camponeses ao redor de projetos de transformação do campo e conquista de justas e dignas condições de vida.

Foi a vez em que Manoel da Conceição se encontrou com o MEB, se reconheceu “mebiano” e se transformou em testemunha da luta pela justiça e o direito, sem pausas ou desistências, até a prisão e a tortura, salvo pela mediação do papa Paulo VI, com telegrama ao General Ernesto Geisel.

A formação de sindicados rurais (eram vários naquela época) concretizava um compromisso comum dos trabalhadores do campo por uma maneira mais humana de viver. Neles entrou, através do MEB, Manoel da Conceição e se tornou uma testemunha da participação ativa na transformação da sociedade brasileira, abrindo caminhos, aquecendo corações para defender a liberdade e criar condições de vida digna.

A política das cautelas e dos pequenos passos típica das Igrejas, não somente da Assembleia de Deus de que Manoel era membro, mas também da Igreja Católica, levou muitos cristãos, mebianos ou não, a entrar na Ação Popular ou em grupos de inspiração marxista/leninista ou maoísta, na convicção de que a extrema pobreza da população exigia ações radicais e revolucionárias.

Manoel da Conceição, com o seu grupo, compreendeu perfeitamente o pedagogía do MEB, essencialmente freiriana, de que as mudanças, inclusive revolucionárias, não acontecem sem o povo consciente querer. Prova disso é a originalidade do percurso do grupo de Manoel da Conceição, radical e revolucionário, mas não violento, resistente e conscientizador, que atravessou os anos de confronto com a ditatura e desembocou, nos anos de 1980, no Partido dos Trabalhadores (PT) para contribuir à construção da nossa, ainda frágil, democracia.

Este nosso tempo democrático, complexo, em que fazemos experiências de derrotas, de um mundo esfacelado, em que os indivíduos são isolados, impotentes contra os poderes fortes e imersos em uma cultura cada vez mais empobrecida pelo tecnicismo e pela falta de um compromisso comum.

A vida de Manoel da Conceição e a longa história do MEB, através de percursos acidentados, procurando novas formas de atividade pelas quais expressar sua posição humanista cristã, mesmo nas novas circunstâncias, sustenta a convicção de que não se pode construir a democracia sem a educação popular e sem a participação consciente e organizada do povo, que criticamente renegue toda tentação populista.
A democracia não pode funcionar se não for transformada numa comunidade de cidadania consciente e ativa, pela participação e ação de baixo para cima, que construa e organize aquele capital de amizade social que é a força vital da democracia. O impacto das desigualdades sociais e econômicas na educação no Brasil, reclamam a urgente implementação de políticas públicas que além de superar os sintomas das desigualdades, como a fome e as más condições de vida, incentivem mudanças estruturais que favoreçam a inovação e o desenvolvimento local.

Manoel nos deixou, mas seu testemunho permanece para sacudir as nossas consciências e nos impelir a participar ativamente na perene tarefa de construção da democracia, que não é somente votar para este ou outro candidato que faz promessas de campanha, mas é conquista de cidadania plena e efetivação dos direitos sociais.

“Viver é Lutar”, aprendeu Manoel no MEB e viveu e lutou ao longo de toda a sua vida. O Movimento de Educação de Base acolhe o testemunho motivador de líderes como Manoel da Conceição (como Carlos Rodrigues Brandão que também nos deixou neste ano – 12 de julho de 2023) e continua a sua luta pela educação popular, aquela educação que, além das instituições de ensino e pesquisa, abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. (Lei 9394 96 Art.1)

Saber – Viver – Lutar preconizam hoje os que aderem ao Movimento de Educação de Base educando para a democracia, para a cidadania ativa e para uma cultura humanista e ecológica, aquela ecologia integral que resguarda a dignidade humana e a vida ameaçada neste planeta Terra, que é a nossa casa comum”.

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