Artigo: VIII Dia Mundial dos Pobres

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“A oração do pobre eleva-se até Deus” (cfr Siracide 21,5).

“Quando eu era ainda jovem, antes de ter viajado, busquei abertamente a sabedoria na oração» (Sir 51, 13). Esta declaração de Ben Sirah poderia ser a confissão de cada consagrada e consagrado em uma comunidade religiosa, onde o ritmo da oração marca os tempos da vida em comum. Faz parte da nossa experiência e da esperança cristã que a oração chegue até Deus, “mas não qualquer oração – alerta Papa Francisco – e sim a oração do pobre. “A oração do pobre eleva-se até Deus” (cfr Siracide 21,5).

No ano dedicado à oração, em vista do Jubileu Ordinário de 2025, esta expressão da sabedoria bíblica que encontramos no livro do Siracide, é mais adequada do que nunca para refletir sobre o VIII Dia Mundial dos Pobres, no dia 17 de novembro. Vale também lembrar a peculiaridade desse dia que não quer desconsiderar a importância do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza assinalado anualmente a 17 de outubro. Trata-se, porém, não somente dos programas políticos para erradicar a pobreza no mundo, mas urge aproximar-se dos pobres, conviver com eles, estabelecer com eles a nossa companhia amiga na luta diária de uma vida dura e sofrida, clamando juntos ao Deus da vida. Quem sabe como os pobres oram, o que eles pedem a Deus, que lacrimas derramam em suas dores? Sua prece, – afirma Papa Francisco – pode ser lida “nos rostos e nas histórias dos pobres que encontramos no nosso dia-a-dia, para que a oração se torne um modo de comunhão com eles e de partilha do seu sofrimento”.

Não podemos conhecer a oração dos pobres se não orarmos lado a lado com eles escutando suas preces. A nossa vida em comum não é um apartheid, não deve ser pensada como um regime de segregação, nem é ativismo solidarizar-se com os pobres. As orações a Deus pelos pobres são frequentes nas capelas das comunidades religiosas, nas preces próprias do povo na liturgia eucarística, nas preces das Laudes e das Vésperas. Complementando o terço, as adorações, os tríduos e as novenas expressamos sempre a nossa compaixão pelos pobres. Mas acaso é essa a oração que Deus espera de nós? “Deus, porque é um Pai atento e carinhoso para com todos, – insiste o Papa – conhece os sofrimentos dos seus filhos. Como Pai, preocupa-se com aqueles que mais precisam dele: os pobres, os marginalizados, os que sofrem, os esquecidos…”. Ele não precisa ser lembrado. “E, orando, – disse Jesus aos discípulos – não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes”. (Mt. 6,8)

É preciso, portanto, optar por outra maneira de orar. “A pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual”. “Nós precisamos de fazer nossa a oração dos pobres e rezar com eles. É um desafio que temos de aceitar e uma ação pastoral que precisa de ser alimentada”, é um programa, o nosso programa da vida consagrada. Uma comunidade de consagradas e consagrados “em saída”, conhece os pobres pelo nome, visita as moradias precárias ou costuma parar nas ruas para conversar com eles ou elas, escuta as suas preces e ora juntando a sua voz à voz dos pobres. Da pobreza, portanto, pode brotar o canto da mais genuína esperança. Lembremo-nos de que «quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. […] Esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 2).

Certo é que orar com os pobres é um risco. Pode perturbar uma cômoda rotina. “Perante o sofrimento dos pobres, Deus se “impacienta” enquanto não lhes faz justiça. “ O Senhor não tardará nem terá paciência com os opressores» (Sir 35, 17-19). Então, toma posse do coração das consagradas e consagrados a compaixão, o sofrer juntos e a santa indignação, a impaciência de Deus. “A oração, por conseguinte, encontra o certificado da sua autenticidade na caridade que se transforma em encontro e proximidade. Se a oração não se traduz em ações concretas, é vã; efetivamente, «a fé sem obras está morta» (Tg 2, 26). “Os pobres têm ainda muito para ensinar, porque numa cultura que colocou a riqueza em primeiro lugar e que sacrifica muitas vezes a dignidade das pessoas no altar dos bens materiais, eles remam contra a corrente, tornando claro que o essencial da vida é outra coisa”.

O Dia Mundial dos Pobres tornou-se um compromisso na agenda de cada comunidade eclesial. É uma oportunidade pastoral. Mas, na verdade, para a vida das consagradas e consagrados, a proximidade com os pobres é uma necessidade quotidiana. Papa Francisco lembra o exemplo de Madre Teresa de Calcutá e São Bento José Labre, “rejeitado em muitos mosteiros, viveu os seus últimos anos pobre entre os pobres, passando horas e horas em oração diante do Santíssimo Sacramento, com o terço, recitando o breviário, lendo o Novo Testamento e a Imitação de Cristo. Não tendo sequer um pequeno quarto para se alojar, dormia habitualmente num canto das ruínas do Coliseu, como “vagabundo de Deus”, fazendo da sua existência uma oração incessante que subia até Ele”. “Não conheço mais o nome de um pobre”, admitiu São Vicente de Paulo ao renunciar ao governo das Galeras do Rei da França. e voltou para as calçadas de Paris. Não saber o nome de um pobre, não saber onde mora, o que se passa na vida dele, é um pecado. Correr ao encontro do pobre, sentar-se com ele, orar juntos e retomar o caminho da libertação é graça e salvação, é encontrar o próprio Cristo que disse: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”. (Mt, 25,40).

No caminho para o Ano Santo, somos exortados todos a sermos peregrinos da esperança junto com os pobres, orando e lutando com eles para que se realize a libertação e promoção que eles anseiam, atentos para ouvir seu grito e solidarizar-nos com os últimos. Da pobreza, portanto, pode brotar o canto da mais genuína esperança para o futuro da vida consagrada. Conclui Papa Francisco: “Que a Santa Mãe de Deus, Maria Santíssima, nos sustente neste caminho; ela que, aparecendo em Banneux, nos deixou uma mensagem a não esquecer: «Eu sou a Virgem dos pobres».

Pe. Gabriele Cipriani C.P.

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