CARTA DE GOIÂNIA
XXI ENCONTRO NACIONAL DA PASTORAL DA EDUCAÇÃO CREMOS NA EDUCAÇÃO!
Reunidos em Goiânia, no coração deste imenso Brasil, terra de onde a poesia de Cora Coralina nos encantou e inquietou com sua ternura, nós, educadoras e educadores agentes da pastoral da educação, participantes do XXI Encontro Nacional da Pastoral da Educação – ENAPE, dirigimo-nos a todos os educadores, educadoras e evangelizadores do nosso país para compartilhar aquilo que o Espírito Santo suscitou como inspiração e chamado ao longo destes dias.
Motivados pela Campanha da Fraternidade 2022, cujo tema foi “Fraternidade e Educação” e pelo Pacto Educativo Global, discutimos e refletimos a centralidade, identidades e missão da Pastoral da Educação no Brasil. Escutamos inúmeras vozes e realidades, contemplamos muitos rostos e, assim, compusemos um rico mosaico que celebra a unidade na diversidade das expressões eclesiais ligadas à Educação. Identificamos o cerne, o “tronco da videira” (cf. Jo 15, 4) que nutre nosso trabalho pedagógico e nossa missão eclesial: Jesus Cristo, nosso Mestre e Senhor.
Cientes da complexidade que envolve o universo educativo, denunciamos profeticamente o descompromisso das autoridades com a Educação, que se materializa no desmonte das políticas públicas educacionais, na falta planejamento e investimento, na má remuneração dos professores, na mercantilização do saber e no abandono das comunidades originárias, ribeirinhas e quilombolas.
A falta de um projeto de Estado para a educação e o contínuo processo de enfraquecimento das escolas e universidades tem levado ao fechamento de unidades educacionais em todo o país, impedindo que milhares de crianças e jovens se formem e busquem um futuro promissor. Esta triste situação, piorada pelas condições precárias que a pandemia submeteu os educadores e as instituições públicas e privadas, penaliza sobretudo os mais pobres e vulneráveis, aumentando as desigualdades sociais. Reconhecemos que durante o duro período da pandemia, o esforço dos educadores foi fundamental para que as consequências da pandemia fossem menos devastadoras no campo educativo.
Uma vez que “tudo está interligado” (Laudato Si’, n. 91), estamos convictos de que as desigualdades educacionais produzem as desigualdades sociais e vice-versa. Portanto, é urgente pensarmos em qual civilização desejamos construir. É urgente investir as nossas melhores forças na educação que forma o ser humano integralmente, para além do mercado e da cultura da competição, e que o prepare para exercício de sua liberdade e da democracia. Pela transformação de cada pessoa, que se dá por meio de uma educação integral, é que poderemos transformar o mundo.
Diante desse contexto tão exigente, nos comprometemos a esperançar o mundo tendo Jesus Cristo como meta (cf. Fl 3,14). Isso significa, concretamente, que queremos fortalecer os processos pedagógicos que colocam a pessoa humana como centro do percurso educativo tendo em vista o bem comum, a paz e a solidariedade; que insistiremos em um modelo educativo que se comprometa com economia solidária e a ecologia integral; que lutaremos por políticas públicas democráticas, funcionais e inclusivas que favoreçam a educação; que defenderemos as escolas e universidades; que apoiaremos as instituições católicas de educação básica e superior; que não nos silenciaremos diante das injustiças e das tentativas de destruir a educação.
Nos empenharemos na consolidação da Pastoral da Educação em nossas comunidades, paróquias, dioceses e regionais, somando forças com educadoras e educadores das redes pública, privada e confessional, reanimando nossa missão e engajando-nos com responsabilidade.
Sem imaginarmos respostas prontas, mas conscientes do nosso papel de transformar criativamente o contexto que vivemos, convidamos a todos a se juntarem a nós para que esta seja a hora da educação. Com o apoio dos bispos do Brasil, das Igrejas locais, das Associações Educacionais, das instituições católicas de educação, das congregações religiosas e institutos de vida consagrada, reiteramos o forte apelo de que “ousemos sonhar”, pois a esperança é ousada e não nos decepciona (cf Rm. 5, 5). Ela nos leva a não esmorecer diante das provações e a sermos corajosos quando somos desafiados. Ela nos torna artesãos da paz e mensageiros de transformação para um mundo novo. Ela estabelece o amor como algo muito maior que o ódio. Ela faz germinar as sementes que lançamos com nossas mãos trêmulas e cansadas. E nossa esperança tem um nome e um rosto: Jesus Cristo. Ele que nos ordenou ir e fazer discípulos, ensinando a guardar o que Ele ensinou, nos deu uma garantia de sua presença: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20). Sabemos que não estamos sozinhos nessa missão: o Senhor vai à nossa frente!
Goiânia, 21 de agosto de 2022
Solenidade da Assunção da Bem Aventurada Virgem Maria