Em celebração aos dez anos da publicação da Encíclica Laudato Si’, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promoveu, na manhã desta quarta-feira, 21, um evento comemorativo que reforçou o chamado à ecologia integral diante dos impactos crescentes da crise climática. Realizado no Auditório Dom Helder Camara, na sede da CNBB, em Brasília, o encontro reuniu lideranças e organizações da Igreja e da sociedade civil comprometidas com a justiça socioambiental.
Na abertura do evento, dom Ricardo Hoepers, bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da CNBB, destacou a relevância atual da Encíclica publicada pelo Papa Francisco em 2015.
“Desde a publicação da Laudato Si’, o mundo tem testemunhado sinais crescentes de que estamos em um ponto crítico. As mudanças climáticas são uma realidade inegável que se manifesta em tempestades mais intensas, secas prolongadas e aumento do nível do mar”, afirmou.
Dom Ricardo destacou que os impactos ambientais afetam de maneira desproporcional as populações mais vulneráveis, especialmente os pobres. Ele reforçou o apelo da Encíclica à conversão ecológica, com mudanças urgentes nos hábitos de consumo, nos valores que orientam nossas decisões e em políticas públicas.
“A Igreja, em sua missão profética, convoca-nos a ser defensores inflexíveis da Casa Comum”, disse.
Ao final de sua fala, agradeceu ao Movimento Laudato Si’ e à Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam Brasil) pelo empenho na organização do evento.
A crise climática e o papel das redes
Também compondo a mesa de abertura, a agente da Cáritas Brasileira do regional Sul 3, Jacira Dias Ruiz, relatou a atuação da entidade nas enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul, como forma de alerta para a conscientização sobre as mudanças climáticas. Ela destacou que a atuação da Cáritas vai além da ajuda material, promovendo dignidade e escuta ativa dos atingidos.
“A Cáritas ouve as pessoas e incide sobre as políticas públicas, cobrando a responsabilização do poder público”, afirmou.
Joana Amaral, coordenadora de Mobilização e Engajamento do Observatório do Clima, alertou para a necessidade de ação conjunta de entidades e movimentos para a superação da crise climática em curso.
“Mais do que produzir dados o que a gente precisa é juntar as redes capilarizadas, ver como conseguimos informar, lidar com aquilo, qual é o papel dessas redes; e como incidir com as políticas públicas e participar dos espaços comunitários de articulação”, explicou.
Joana ressaltou, ainda, que o tema do clima não pode ficar restrito ao campo da ciência: “Todo mundo está vivendo as consequências da crise climática. Precisamos democratizar o debate e fortalecer os territórios.”
Já a professora e pesquisadora da Universidade Federal de Roraima, Márcia Maria de Oliveira, compartilhou sua experiência com a Laudato Si’ na Repam, destacando os seminários realizados na região pan-amazônica.
“A Laudato Si’ veio confirmar uma postura muito profética com um posicionamento claro sobre a questão ambiental na Amazônia. Ela não veio inventar a roda — veio somar e confirmar essa posição”, afirmou.
Segundo ela, os seminários permitiram refletir sobre os desafios da região e prepararam o caminho para o Sínodo da Amazônia. “Foram momentos preciosos, que nos aqueceram para vivenciar os desafios da ecologia integral e ampliar o nosso conceito de Casa Comum”, completou. Márcia destacou ainda que, iluminados pela Encíclica, os agentes e instituições da Igreja passaram a tomar posições políticas claras em relação à urgência climática.
E por fim salientou que, a partir das reflexões realizadas, surgiram diversas iniciativas e gestos concretos na Igreja no Brasil. “Em algumas dioceses fala-se sobre a criação da Pastoral da Ecologia Integral. Dessa forma a gente conclui que a Laudato Si’ vem em um momento muito oportuno. Ela nos reposiciona em compromissos e campanhas importantes”.
Lançamento de cartilha e plantio de árvore
Ainda durante o evento, foi lançada oficialmente a cartilha “Nossa Casa Comum – Guardiões da Criação”, uma publicação voltada à formação e mobilização de comunidades católicas. A cartilha aborda temas como o que a ciência diz sobre as mudanças climáticas e o compromisso da Igreja com a ecologia integral. A publicação, distribuída aos presentes, pretende contribuir com a formação de lideranças e com a articulação de ações concretas em defesa do meio ambiente e das populações mais vulneráveis.
Ao final da celebração, foi realizado um momento simbólico de plantio de uma árvore nos jardins da CNBB. O gesto representou o compromisso renovado da Igreja com o cuidado da criação e a construção de um futuro sustentável. A árvore plantada simboliza esperança, resistência e vida — valores centrais da Laudato Si’.
A Laudato Si’
Lançada em 24 de maio de 2015, às vésperas da assinatura do Acordo de Paris e da COP 21, a Laudato Si’ se tornou um marco do pontificado do Papa Francisco. Sua abordagem inovadora, que integra fé, ciência, justiça social e ambiental, influenciou decisivamente os debates globais sobre a crise ecológica. A celebração de seus dez anos, especialmente em um momento em que o Brasil se prepara para sediar a COP 30, em Belém (PA), reafirma o papel da Igreja na promoção de uma ecologia integral e de uma consciência planetária voltada ao cuidado da Casa Comum.
Fonte: CNBB